quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O SONHO DO COLIBRI - PARATY ECOFASHION

Imagem Google

O pelicano e o colibri

Um certo dia um pelicano, com seu grande bico, sentado num ramo de uma árvore, vê um colibri, com o seu biquinho minúsculo, muito atarefado de um lado para o outro da floresta. Aquela atitude inquietou o pelicano que interpelou o colibri e lhe perguntou: - -Oh colibri, espera lá, que estás tu a fazer? O colibri apressadamente respondeu: Oh pelicano, não vez que um fogo deflagrou na floresta? E o pelicano retorquiu: - Sim, mas e o que tu tens que ver com isso? O colibri sempre batendo as asinhas respondeu: - Eu vou buscar água com o meu biquinho àquela ribeira e depois despejou-a em cima do fogo da floresta.
O pelicano soltou uma grande gargalhada de troça e acrescentou:
- Olha lá tu achas que vais conseguir apagar o fogo? Achas mesmo?
O colibri terminou a conversa, pois tinha um fogo para apagar, dizendo:
- Não sei, mas ao menos faço a minha parte!


A terapeuta e o colibri


Foi no horário do almoço em um restaurante no Rio de Janeiro que encontrei uma colibri voando alto, voando baixinho, voando sempre. Lá estávamos nós duas: ela, Bernadete Passos, diretora do Instituto Colibri em Paraty, e eu, Luz Marina Gutiérrez, psicoterapeuta e coach de vida, falando da vida, dos sonhos e das possibilidades de voar juntas e junto a outras mulheres em Paraty.

Paraty esse espaço magico compartido por nós duas (somos vizinhas) e dividido só por uma cerca de flores, bananeiras, ipês, palmeiras juçaras e um flamboyant dentre outras espécies. Paraty um ninho de desafios e de projetos para quem, como Bernadete e a equipe do Instituto Colibri, pensa em desenvolvimento sustentável e acredita no potencial dos moradores da região. Foi neste contexto que me somei e fui somada.

Minha experiência profissional na capacitação de mulheres jovens e adultas e meu trabalho com grupos de mulheres de diversas condições sociais e econômicas veio a contribuir para ampliar esta visão da sustentabilidade desde uma perspectiva das relações de gênero e o empoderamento feminino. E foi em 2010, começou-se a gestar junto com a equipe do Instituto Colibri e mulheres empreendedoras sociais da região a REDE FEMININA DE PARATY, um projeto que possibilita encontros que visam integrar, socializar e fortalecer as mulheres da região de Paraty em sua autoestima, empreendedorismo e empoderamento.





Desde nosso encontro no Rio de Janeiro, Bernadete Passos minha vizinha colibri junto com outras colibris e sua equipe, seguem voando muito alto. Novos projetos vieram a fortalecer a autonomia econômica das mulheres da região, dentre eles: Nosso Quiosque e Paraty EcoFashion que promovem o fortalecimento das mulheres e de homens de seis comunidades tradicionais do município de Paraty, oferecendo capacitação às populações do Pouso da Cajaíba, de Trindade, Praia do Sono, Ilha do Araújo, do Quilombo do Campinho da Independência e da Aldeia Indígena de Paraty-Mirim.

Para a realização da segunda edição do Paraty EcoFashion que acontecerá este próximo fim de semana em Paraty (14,15 e 16 de setembro) foi realizado um trabalho prévio de capacitação de mulheres caiçaras, indígenas e quilombolas que tiveram ainda a oportunidade de participar de oficinas de Corte e Costura, de Design e Papel Artesanal, Customização, e Vivências para o Fortalecimento da Cadeia Produtiva do Artesanato da região . 

http://paratyecofashion.com.br/2012/


De todas estas atividades aqui descritas, talvez esta última mencionada de forma tímida no site da ecoFashion seja a mais difícil de medir e de entender. Tenho muito orgulho como terapeuta e como mulher de ter trabalhado com as mulheres de Paraty estas vivências de desenvolvimento pessoal. O objetivo deste trabalho é promover e estimular novas formas de pensar e agir de forma crítica e construtiva enquanto a ser ou se tornar empreendedora e principalmente enquanto a ser mulher nascida ou moradora de esta linda região do Brasil.

Nelly P. Stromquist, professora de educação para o desenvolvimento internacional na Escola de Educação da Universidade do Sul da Califórnia e especialista em questões de gênero, afirma que o processo do empoderamento feminino se fortalece através de cinco níveis de igualdade: bem-estar, acesso aos recursos, conscientização, participação e controle. No meu trabalho com grupos de mulheres vejo as dificuldades que muitas mulheres de regiões de áreas urbanas e  rurais têm de lutar pelo acesso a estes níveis de igualdade. A invisibilidade das mulheres em muitas comunidades ainda continua sendo um denominador. O Instituto Colibri em Paraty através de suas práticas cotidianas e desafios múltiplos na promoção da igualdade e equidade de gênero promove um espaço para que nós mulheres possamos refletir e lutar por nossos direitos, nossa identidade, pertença e autoestima. Neste trabalho tenho-me tornado também uma colibri.

No México, o beija-flor tem uma simbologia muito forte. Os Astecas acreditam que as almas dos guerreiros mortos, regressam à vida sob forma de colibri. Na língua dos índios Caraíbas no Brasil, colibri significa "área resplandecente" e também se diz que quando chega a primavera, como as árvores ganham as folhas, o beija-flor ou colibri também ganha uma nova plumagem... e acorda... Simbologia maravilhosa para representar a força do feminino.

Parabéns Mulheres de Paraty pela nova plumagem. Parabéns Bernadete e Instituto Colibri por resplandecer pessoas, homens, mulheres e crianças neste canto mágico na ponte branca de Paraty. Parabéns por realizar sonhos.