Estou iniciando o 2012 compartilhando este texto enviado por Geise Assis desde a bela França. Se bem o texto descreve mudanças e conquistas importantes das mulheres jovens no mercado do trabalho, sua leitura me convida a comparar com a realidade de milhões de mulheres brasileiras e latinas.
No Brasil a mulher ganha cada dia novos espaços em pro da igualdade, temos uma “Presidenta”, cada vez mais mulheres em diversos cargos e até projetos de Lei que promovem o combate a diferença de remuneração entre homens e mulheres mais ainda estamos no processo de reivindicação e mudança. Olha lá a desigualdade reversa de gênero...


Com maior participação no mercado, mulheres impulsionam desigualdade reversa de gênero
Herald Tribune -Luisita Lopez Torregrosa  e George El Khouri Andolfato
À medida que o ano chega ao fim, grande parte da conversa a respeito das mulheres –ao menos nos Estados Unidos– passou da ponderação e das desigualdades de gênero globais para a tendência das solteiras ganharem mais do que os homens e a ascensão do arrimo de família do sexo feminino.
Há tantos pontos de vista e teorias, alguns movidos por pesquisas independentes, outros pela experiência pessoal e ainda outros por uma mistura de ambos, que às vezes temos um quadro confuso, sempre provocador e ocasionalmente contraditório.
Para começar, as mulheres jovens de hoje –e não apenas nos Estados Unidos– estão rapidamente eliminando a desigualdade salarial, ou em alguns casos já a eliminaram.
Elas estão se casando cada vez mais tarde, ou nem mesmo se casando. Elas não precisam mais de maridos para ter filhos, ou não querem filhos (40% dos nascimentos nos Estados Unidos a cada ano atualmente envolvem mães solteiras). 
As mulheres estão à frente dos homens em educação (no ano passado, 55% dos formados nas faculdades americanas eram mulheres). E um estudo mostra que na maioria das cidades americanas, mulheres solteiras, com menos de 30 anos, sem filhos, estão ganhando em média 8% mais dinheiro do que seus pares do sexo masculino, com Atlanta e Miami à frente com 20%.
Apesar desse estudo envolvendo 2 mil comunidades ter sido realizado nos Estados Unidos, ele aponta para uma tendência global.
A ascensão desse segmento de mulheres jovens de alta renda e o número crescente de arrimos de família do sexo feminino estão transformando as relações de gênero, alterando os padrões de relacionamento, casamento e maternidade, criando um novo conflito entre os sexos, redefinindo o termo "arrimo de família" e inspirando tratados sobre a equalização do papel dos homens.
Isso está sendo chamado de desigualdade reversa de gênero.
Cada vez mais, mesmo que ainda não a maioria, as mulheres trabalham fora enquanto os maridos ou companheiros cuidam de uma parcela cada vez maior da frente doméstica.
Essa reversão de papéis, em desenvolvimento ao longo da última década, ocorre com muita frequência com certo estigma. "Muitos casais estão perfeitamente contentes e bem ajustados, mas enfrentam a oposição estigmatizadora de amigos, parentes e até das tradições religiosas", disse Liza Mundy, uma integrante da New America Foundation e autora de um novo livro, "The Richer Sex: How the New Majority of Female Breadwinners Is Transforming Sex, Love and Family" (ou, "o sexo mais rico: com uma nova maioria de arrimos da família do sexo feminino está transformando o sexo, o amor e a família", em tradução livre), com lançamento previsto para março.
O estigma, às vezes sutil, às vezes explícito, mina os relacionamentos entre as mulheres de alta renda e os maridos e namorados que ganham menos ou são "donos de casa", e está causando caos, disse Mundy.
Ela conheceu mulheres de alta renda que, com medo de afugentarem os homens, concebem estratégias para minimizar sua riqueza. Uma mulher leva notas de baixo valor para pagar gorjetas, bebidas, estacionamento e outras despesas de encontros, em vez de usar seu cartão de crédito de limite elevado.
"Algumas dessas mulheres aprenderam do modo difícil que quando vão a bares, é melhor mentirem sobre o que fazem –dizendo que são maquiadoras ou professoras de música, em vez de consultoras de software ou advogadas", disse Mundy.
Diante de um pool cada vez menor de homens à altura delas, algumas mulheres se assentam e casam, mas outras pegam aviões para "excursões de namoro" até cidades como Nova York, San Francisco e Boston, onde o mercado de homens é mais promissor.
O que resultará deste novo mundo? "Eu acho que as mulheres terão que abandonar a mentalidade tradicional feminista de meio a meio, tudo precisa ser igual", disse Mundy, "e aprender a valorizar os maridos e companheiros que estão se tornando mais domesticados e que dão mais apoio".
Uma líder feminista, Siobhan (Sam) Bennett, presidente do não partidário Fundo de Campanha das Mulheres, não vê conflitos para as mulheres de alta renda no namoro, casamento e vida doméstica. Pelo contrário, ela disse: "Eu vejo grande oportunidade para essas mulheres de alta renda pedirem e conquistarem a flexibilidade que precisam para terem casamentos e famílias –suas vidas provavelmente serão diferentes daquelas que conhecemos– mas elas funcionarão para elas".
A escritora Kate Bolick, editora de cultura da revista "Veranda" de estilo de vida, vê um quadro mais sombrio.
"À medida que as mulheres sobem cada vez mais alto, os homens estão ficando para trás", ela disse em um artigo, "O que, me casar?", na edição de novembro de "The Atlantic". "Nós chegamos ao topo da escadaria, finalmente prontas para iniciar nossas vidas, apenas para encontrar uma sala cavernosa em fim da festa, onde a maioria dos homens já partiu, alguns nem mesmo vieram, e aqueles que permanecem estão olhando torto ao lado da mesa de queijos ou são aqueles com os quais você não quer sair."
A situação não se restringe aos Estados Unidos. A tendência é global. Os homens japoneses e sul-coreanos estão importando noivas de países asiáticos mais pobres, com posturas tradicionais a respeito do casamento. Na Espanha, disse Mundy, ela encontrou mulheres de alta renda se casando com homens de países progressistas do Norte da Europa, como a Suécia, enquanto os homens espanhóis procuram noivas imigrantes de países mais convencionais de língua espanhola.
Por acaso, eu conheci recentemente uma parisiense de 29 anos, Natacha Richard, solteira e sem filhos, que veio para Nova York para trabalhar no ramo de beleza porque, ela disse, as mulheres têm mais oportunidades e liberdade nos Estados Unidos do que na França. As mulheres fizeram progressos lá, ela disse, mas não tanto quanto nos Estados Unidos.
"As mulheres aqui realizam o mesmo trabalho que os homens", ela disse. "Elas recebem quase o mesmo e às vezes mais, fazendo o serviço melhor e, além disso, são as mulheres que têm filhos e que cuidam dos filhos. O que resta para os homens fazerem?"
Bolick disse: "Se, em todos os setores da sociedade, as mulheres estão em ascensão, e se a igualdade de gênero está ao alcance, isso significa que um regime de casamento baseado no domínio econômico do homem pode estar em extinção".
Um motivo de comemoração? Apenas o futuro dirá.
Tradução: Em Nova York (EUA)